Abordando um novo modo de entender e vivenciar o amor, a discussão realça que não existem relacionamentos ou indivíduos “perfeitos” porque todos carregam imperfeições e traumas. Esses traumas frequentemente são reativados dentro dos relacionamentos, espaços onde antigas feridas podem ser despertadas. O foco está na importância de um processo interno de autocuidado, onde se trabalha para curar essas feridas infantis através do fortalecimento de uma relação com cuidadores internos – vozes internas que representam aqueles que nos amaram e apoiaram.

Esse processo envolve reformular os circuitos neurais para criar um senso de segurança, tornando a pessoa mais estável e segura em seus relacionamentos, independentemente da idade ou da profundidade das feridas passadas. É destacada a habilidade de reprogramar o cérebro para lidar melhor com a ansiedade e aumentar a capacidade de empatia, permitindo que os indivíduos equilibrem suas necessidades com as de seus parceiros. Este desenvolvimento transforma os relacionamentos em locais de cura e crescimento mútuo, em vez de serem meramente um meio para acalmar ansiedades pessoais.

Também se reflete sobre as mudanças que ocorrem quando uma pessoa começa a se sentir vista e valorizada por aqueles que a apoiam. Isso leva a um aumento no amor-próprio e à atração por outros que valorizam o indivíduo de maneira similar. Essas mudanças têm o potencial de transformar as dinâmicas de relacionamento existentes e influenciar o tipo de parceiros que a pessoa atrai. Uma percepção mais forte da própria identidade pode, por vezes, amedrontar parceiros que se tornaram evitativos devido às próprias dores, mas a compaixão crescente pode encorajá-los a também buscar cura.

Reconhece-se que conflitos em relacionamentos são inevitáveis, mas enfatiza-se que esses conflitos podem ser vistos como oportunidades de crescimento quando abordados corretamente. Cada “ruptura” seguida por um “reparo” tem o potencial de fortalecer a conexão entre as pessoas. À medida que o processo terapêutico se aprofunda, tornamo-nos mais conscientes dos pontos frágeis em nós e em nossos parceiros, permitindo um entendimento mais profundo de como nossas dificuldades pessoais afetam nossas interações.

A capacidade de desacelerar nossas reações emocionais é vista como essencial, pois permite uma comunicação mais eficaz das nossas necessidades, evitando exacerbá-las com reações impulsivas de raiva ou acusação. O trabalho terapêutico também aumenta a sensibilidade aos aspectos mais vulneráveis do nosso “eu mirim”, ajudando a entender e a responder de forma mais efetiva às necessidades emocionais dos parceiros.

Finalmente, é feito um convite para aplicar o aprendizado e as experiências vivenciadas ao longo do processo em seus relacionamentos atuais, independentemente da situação específica em que se encontrem. Isso enfatiza a importância de uma abordagem ativa e consciente nos relacionamentos, onde as dificuldades não são apenas vistas como obstáculos, mas como oportunidades para crescimento pessoal e aprofundamento dos laços afetivos.

QUANDO ACABA A LUA DE MEL

A fase da lua de mel é muitas vezes vista como um período idílico em qualquer relacionamento amoroso, onde tudo parece perfeito e as emoções estão no auge, alimentadas pela euforia da novidade e da dopamina. No entanto, essa fase inicial é apenas temporária e, quando termina, revela-se o verdadeiro desafio de qualquer união: a realidade do dia a dia com outra pessoa, com todos os seus defeitos, manias e demandas.

Uma terapeuta de casais expressa frustração com a maneira como a cultura popular idealiza o amor romântico, criando expectativas irreais. Ela argumenta que é após o término da lua de mel que o relacionamento de fato começa, quando as “lentes cor-de-rosa” são removidas e os parceiros podem ver um ao outro como realmente são. Esse é um momento crítico, pois é quando ambos começam a mostrar mais de suas verdadeiras personalidades, o que pode ativar o “eu mirim” em cada um, aquele lado mais vulnerável e inseguro que teme o abandono e resiste às mudanças.

As reações a esse novo estágio do relacionamento podem variar. Pessoas com tendências evasivas podem se retrair, dedicando mais tempo ao trabalho ou a hobbies pessoais, enquanto aquelas mais ansiosas podem se agarrar ainda mais ao parceiro, alimentando um ciclo de drama e dependência emocional. Se ambos os parceiros conseguirem manter um apego seguro, esse período pode se tornar uma fase rica em descobertas e na criação de acordos criativos que solidificam a base de uma parceria verdadeiramente interdependente e gratificante.

Contudo, enfrentar esse período não é fácil. Descobrir que o parceiro perfeito tem suas imperfeições pode ser desanimador e até assustador. Essa é uma fase onde pequenos e grandes problemas surgem, exigindo negociações e compromissos sobre questões que vão desde a frequência de noites com amigos até preferências culinárias no jantar. Quando essas necessidades se chocam, podem dar origem a conflitos sérios, fazendo com que o relacionamento pareça mais um trabalho árduo do que uma fonte de prazer e apoio mútuo.

Este período de ajuste é natural e saudável, pois é quando ambos os parceiros aprendem mais sobre si mesmos e um sobre o outro, definindo limites e aprofundando a conexão. No entanto, quando os desafios são grandes e as incompatibilidades fundamentais, pode ser necessário reconsiderar a relação. Para casais que descobrem uma compatibilidade essencial em áreas cruciais e têm vontade de resolver os desafios através do diálogo e do respeito mútuo, o potencial para um relacionamento duradouro e significativo é alto.

A duração da lua de mel pode variar, e à medida que a excitação inicial diminui, ambos os parceiros devem decidir se o relacionamento possui qualidades suficientes para continuar explorando juntos. Perguntas importantes surgem, como a capacidade do relacionamento de satisfazer a necessidade de uma conexão profunda e se ambos estão interessados em um crescimento mútuo.

Além disso, o fim da lua de mel pode levar alguns a buscar novos parceiros, especialmente com a facilidade dos aplicativos de namoro. Contudo, fugir diante das primeiras dificuldades priva as pessoas de uma oportunidade valiosa de crescimento pessoal, que pode beneficiar todas as suas relações, sejam elas amorosas, familiares, sociais ou até mesmo com seu próprio eu interno.

Por fim, para aqueles com um estilo de apego ansioso, os primeiros sinais de problemas podem reativar antigos padrões de abnegação e codependência. Nesses momentos, é crucial fazer uma pausa e buscar apoio, enquanto se retomam práticas de autoconhecimento e cuidado, evitando assim que o relacionamento se torne um campo de batalha de ressentimentos e acusações. Reconectar-se com os cuidadores internos pode ajudar a acalmar o sistema emocional e proporcionar uma visão mais clara e equilibrada da situação, reconhecendo que as dificuldades enfrentadas muitas vezes não são culpa de ninguém, mas sim reflexo de feridas antigas que foram inadvertidamente tocadas.

Ao adentrarmos na verdadeira essência dos relacionamentos, é essencial compreender que as rupturas e desafios são partes normais da construção de apegos saudáveis e seguros entre os indivíduos. A falibilidade humana é um elemento constante, mesmo nos melhores relacionamentos. Pesquisas revelam que, mesmo nas interações entre mães e bebês onde o apego é considerado bom, muitas interações ainda estão descompassadas. A habilidade de corrigir essas desconexões e retomar a proximidade é crucial para o desenvolvimento de um apego seguro.

Na prática, isso se manifesta através da validação dos sentimentos de alguém, reconhecendo sua angústia e mostrando disposição para remediar qualquer mal-estar. Este processo ensina ao nosso sistema nervoso que desentendimentos ou momentos de desconexão não são equivalentes ao abandono. A chave está em sentir-se visto e ouvido, aspectos que, por si só, iniciam o processo de reparação antes mesmo da resolução do problema em si.

A estabilidade e a durabilidade dos relacionamentos são sustentadas por pilares como respeito mútuo, transparência, vulnerabilidade, humildade e a habilidade de escutar profundamente o outro. Essas qualidades são fundamentais para criar um ambiente seguro onde rupturas possam ser reparadas de maneira construtiva. Ao invés de apontar culpas, o desenvolvimento da empatia se torna essencial, entendendo que cada pessoa tem suas próprias necessidades e perspectivas, que frequentemente diferem das nossas.

Entender a história pessoal de cada um e como ela influencia reações sob pressão é vital. Isso permite um entendimento mais profundo dos motivos por trás das atitudes defensivas, que são comuns quando as pessoas se sentem ameaçadas e precisam se proteger. Responder a essas reações com curiosidade ao invés de julgamento ou retaliação abre espaço para diálogos mais sinceros sobre os problemas em questão. Este processo de resolução começa com o respeito ao que está ocorrendo no momento e permitindo que cada um se expresse livremente, mantendo-se receptivo e curioso sobre os possíveis desfechos.

À medida que uma pessoa progride em seu próprio processo de cura, é mais provável que atraia parceiros capazes de também trabalhar para criar um vínculo seguro. No entanto, tendências ansiosas antigas podem ainda surgir, mas com a nova capacidade desenvolvida de reconhecer e abordar essas questões de forma diferente, há uma melhoria significativa na gestão do relacionamento. Para que qualquer relação prospere a longo prazo, ambos os parceiros precisam estar comprometidos em explorar profundamente os problemas que surgem, aceitando que perfeição não é uma expectativa realista.

Reconhecer padrões antigos que estão sendo ativados e responder com menos impulsividade, e mais pausa para reflexão, ajuda os parceiros a realmente ouvir um ao outro e entender as questões subjacentes. Este conceito de “parceria consciente”, como descrito por Harville Hendrix, um especialista em terapia de relacionamento, enfatiza que, embora a lua de mel possa terminar, o amor pode se tornar mais profundo e satisfatório do que o inicialmente vivenciado na fase de atração romântica.

À medida que as duas pessoas acolhem cada vez mais aspectos um do outro com carinho, a segurança no relacionamento se aprofunda, o que conduz a uma maior vulnerabilidade e intimidade. Este processo contínuo de acolhimento e apoio mútuo fortalece a união do casal dia após dia, transformando o relacionamento em uma fonte contínua de crescimento e satisfação pessoal.