Sandy, no seu relacionamento, se assemelhava a um polvo quando confrontada com situações de conflito. Sua maneira de lidar com a raiva envolvia criticar sua parceira, Kristy, e, às vezes, até atirar objetos. Embora liberar suas emoções dessa maneira proporcionasse um alívio momentâneo, isso frequentemente a deixava sentindo-se mal depois, por ter magoado Kristy e pela bagunça emocional que precisava ser arrumada posteriormente.
Ao procurar orientação terapêutica, Sandy começou a explorar o medo profundo que a levava a esses comportamentos explosivos. Ela tinha motivos válidos para temer a desconexão, pois crescera em um ambiente familiar onde havia muitas brigas e pouco cuidado emocional. Desde criança, Sandy assumira o papel de pacificadora, tentando incessantemente cessar as brigas entre seus pais. Infelizmente, seus esforços eram em vão, mas ela nunca deixava de tentar. Esse padrão de comportamento se estendeu para seu relacionamento com Kristy, onde ela tentava resolver os conflitos imediatamente, mas isso apenas fazia Kristy se retrair ainda mais.
Kristy precisava de espaço após as brigas para processar o ocorrido, e não conseguia falar com Sandy durante esse período. Esse padrão deixava Sandy angustiada, sem saber quando ou se Kristy voltaria a se conectar com ela. Para ajudar Sandy a entender por que isso era tão difícil, a terapia focou em revisitar as experiências de sua infância, onde a falta de atenção dos pais durante conflitos a deixava em pânico.
Juntas, Sandy e Kristy elaboraram um plano para lidar com as situações em que Sandy sentisse a raiva se aproximando. Sandy aprenderia a comunicar que estava à beira da raiva e precisava de um tempo para se acalmar, solicitando gentilmente um momento posterior para conversarem sobre o assunto, reafirmando seu amor e a importância de Kristy em sua vida. Kristy, por sua vez, concordou que seria útil estabelecer um momento específico para essa conversa, dando a ela tempo suficiente para se acalmar e se preparar emocionalmente para o diálogo.
Essa abordagem de marcar um horário para discutir as questões não só reafirmava o compromisso mútuo com o relacionamento, mas também ajudava Sandy a se sentir valorizada e a entender que Kristy estava igualmente empenhada em resolver as questões. Isso era fundamentalmente diferente do descuido afetivo que Sandy havia experimentado na infância, e ajudava a acalmar seu eu interior assustado.
Com o tempo, essa nova estratégia permitiu a ambas desenvolver uma maior segurança e capacidade de lidar com conflitos de forma mais saudável. Kristy aprendeu a se abrir mais quando Sandy estava calma, e Sandy conseguiu expressar suas necessidades e medos de uma forma que Kristy podia atender sinceramente, como pedir um abraço para aliviar o medo que remontava aos seus cinco anos de idade.
Esse processo não apenas fortaleceu a conexão entre Sandy e Kristy, mas também transformou o modo como elas lidavam com os conflitos, substituindo defesas antigas por diálogos abertos e apoio mútuo. Com dedicação e prática, elas conseguiram manter um nível de intimidade e conexão que se tornou mais forte e constante ao longo do tempo, marcando uma nova fase no relacionamento onde a confiança e o apoio mútuo predominavam.
Em um relacionamento, quando os parceiros aprendem a gerenciar suas reações emocionais de maneira mais saudável, eles podem efetivamente reparar mal-entendidos e fortalecer sua conexão. Isso, no entanto, é mais fácil dizer do que fazer, especialmente durante momentos de tensão. Quando um casal decide trabalhar juntos para criar estratégias proativas, eles se preparam para lidar com os desafios de forma mais eficaz.
Para isso, é crucial que cada parceiro aprenda a se acalmar e sair do estado de ativação simpática, aquele que nos coloca em “modo de luta ou fuga”, e entrar num estado ventral, que permite uma conexão mais tranquila e racional. Reconhecer que as reações intensas muitas vezes emanam de dores e medos antigos é um passo importante para não atribuir injustamente ao parceiro a causa de velhas feridas.
Um exercício útil retirado da terapia de relacionamento Imago ajuda os casais a criar um quadro para comunicação eficaz. O primeiro passo é agendar um momento para conversar quando ambos estiverem calmos. Durante esta conversa, é importante manter uma postura de não culpabilização e focar em expressar apreço mútuo, o que pode ajudar a diminuir as defesas e abrir espaço para uma comunicação genuína.
Os parceiros devem então se alternar para expressar suas irritações, usando um cronômetro para garantir que ambos tenham tempo igual de fala, limitado a três minutos. Durante este tempo, devem usar frases em primeira pessoa para descrever seus sentimentos e, se possível, conectar esses sentimentos com experiências passadas da infância. É crucial que o parceiro que está ouvindo não interrompa, mas depois repita o que ouviu para confirmar a compreensão, um processo conhecido como espelhamento ou escuta reflexiva.
Após ambos terem a chance de falar e serem ouvidos, eles podem expressar validação dos sentimentos um do outro, mesmo que não concordem com todos os pontos. Este reconhecimento pode ser profundamente curativo. Ao validar as experiências um do outro sem tentar corrigi-las ou debater, o casal cria um ambiente onde cada pessoa se sente vista e ouvida.
Finalmente, esta comunicação pode levar a uma resolução, que pode ser tanto um plano de ação específico como simplesmente um compromisso de estar mais atento às necessidades um do outro no futuro. A prática deste exercício pode transformar relacionamentos, tornando os parceiros menos propensos a culpar um ao outro por suas emoções e mais abertos a compartilhar suas vulnerabilidades.
Este método não apenas ajuda os parceiros a lidar com conflitos de maneira mais construtiva, mas também fortalece a intimidade e a confiança entre eles, transformando a dinâmica do relacionamento para uma onde a empatia e o apoio mútuo prevalecem. Os casais que se dedicam a esta prática descobrem que são capazes de superar desafios com maior facilidade e sustentar uma conexão mais profunda e satisfatória ao longo do tempo.